domingo, 23 de novembro de 2008

Greed - Ouro e Maldição, de Erich Von Stroheim EUA, 1924





Greed ("ganância, cobiça"), traduzido no Brasil como Ouro e Maldição, é um estupendo filme. Mas é também mais que isso, para o bem e para o mal dele. Hoje, é acima de tudo um mito: é o mais famoso filme perdido de todos os tempos. Sim, aquilo que vemos diante da tela, por mais emocionante e visionário que seja, é apenas uma pequena amostra daquilo que deveria ser o filme de Erich Von Stroheim.

A história é conhecida. Apaixonado pelo grandioso romance naturalista McTeague (1899), de Frank Norris (1870-1902), Stroheim começou em 1923 a rodar uma adaptação do livro para a Metro-Goldwyn-Mayer. A mitologia em torno do filme – é um dos filmes sobre os quais se conta mais histórias do boca-a-boca em todos os tempos – diz que Stroheim julgava fazer com a adaptação de McTeague sua grande obra-prima. No total, foram rodados 446 rolos de filme. A primeira versão editada pelo diretor, segundo a lenda, variava entre 42 e 47 rolos, algo entre 8 e 10 horas. A segunda, de algo acima de quatro horas, foi também recusada pelo estúdio, assim como a versão do montador Grant Whytock (3h). A MGM tirou o filme das mãos de Stroheim e o filme foi lançado em uma versão de 130 minutos, o resto do material tendo sido queimado pelo estúdio anos depois, segundo se conta, para vender as quantidades ínfimas de prata extraíveis a partir do nitrato com que se fazia negativos. Stroheim nunca assistiu à versão exibida comercialmente.

Mitologia ou não, essa história apenas acrescenta e amplia a problemática tratada no próprio filme: o efeito devastador que o dinheiro pode ter na vida das pessoas. Poeta da decadência moral a da prevalência da força sobre a generosidade, Erich Von Stroheim retrata em Greed a vida de três amigos transformados em lobos um do outro a partir do momento em que Trina, a futura esposa de McTeague, ganha US$5000 de prêmio numa loteria. Marcus, primo de Trina e seu antigo pretendente, passa a invejar loucamente McTeague por seu sucesso (mais pelo dinheiro que pela garota) e Trina entra em delírio de avareza, o que fará McTeague se exasperar e readquirir os hábitos violentos que tinha quando era minerador.

Um dos aspectos mais impressionantes em Greed é a construção dos personagens. Sobre elas, não se deve falar tanto de psicologia, mas de psicofisiologia. Como todo bom ficcionista naturalista, o comportamento dos personagens deriva menos das decisões que eles tomam de acordo com seu caráter mas de um misto de conteúdo genético adquirido (McTeague é apresentado por uma cartela como tendo a ternura da mãe mas também a carga animal que herdou do pai) e resposta quase animal ao meio em que vive (assim, McTeague passa a ser menos agressivo quando em companhia da jovem Trina). Contudo, mesmo com todos os inúmeros cortes que o filme teve por seus produtores, os três personagens principais revelam nuances de comportamento muito vastas e ricas, inéditas no cinema mudo e raras até hoje (difícil ver filme hoje em que os personagens se reinventam a cada cena).

Presas dos instintos unicamente, os personagens de Greed são muitas vezes refletidos em animais. Numa cena de enlace amoroso consentido (mesmo que ambígua), a cena corta para os dois passarinhos de estimação do casal, que brincam. Quando McTeague agride sua mulher, os pássaros, esfomeados, se bicam. Quando fica claro que foi Marcus que denunciou a falta de diploma de seu ex-colega, uma fusão o compara a um gato que covardemente pula sobre a gaiola dos pássaros para saciar sua fome. Ainda em outra situação, cobras e lagartos exprimem a aridez do ambiente e do comportamento dos personagens.

Quanto à seqüência final, filmada no Death Valley americano, nada a dizer a não ser que ela antecipa em quase 40 anos os planos exaustivos que fizeram de Antonioni um dos papas do cinema moderno e a luminosidade abrasiva que fará clássicos dos anos 60, de Bergman a Glauber Rocha.

Apesar de todas as mutilações e violências que sofreu, Greed ainda continua uma fonte inesgotável de novidade.

Ruy Gardnier


Sinopse:

Começo do século. McTeague vive na penúria trabalhando numa mina. Querendo mudar de vida, vai para a Califórnia, onde passa a trabalhar como dentista, sem entretanto ter qualificação acadêmica. Apaixona-se por Trina, prima de seu amigo Marcus, e casa-se com ela. Mas tudo dá errado: ao passo que McTeague tem cassada sua licença, sua mulher vai rapidamente transformando-se numa avarenta depois de ter ganho um prêmio de US$5000 na loteria. Embriagado e num momento de angústia, McTeague assassina sua esposa e parte para o deserto com o dinheiro da loteria, mas Marcus sai atrás dele para capturá-lo e roubar-lhe o prêmio. O fim só pode ser trágico. Adaptação do romance "McTeague" de Frank Norris.


Filmografia de Erich Von Stroheim:

1918 Blind Husbands (Maridos Cegos)
1919 The Devil’s Passkey
1921 Foolish Wives (Esposas Ingênuas)
1923 Merry Go Round
1924 Greed (Ouro e Maldição)
1925 The Merry Widow (A Viúva Alegre)
1928 The Wedding March (A Marcha Nupcial)
1928 The Wedding March II –Honeymoon
1928 Queen Kelly (Minha Rainha)
1933 Walking Down Broadway (Alô, Beleza)


texto extraído do site http://www.contracampo.com.br/sessaocineclube

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Homem-leopardo volta à civilização após 20 anos


O homem-leopardo foi domesticado. Depois de 20 anos vivendo sozinho em uma região selvagem de Skye, no Reino Unido, Tom Leppard, 73 anos voltou à civilização. Com 99,2% do corpo coberto com tatuagens que o deixam parecido com o felino, ele aceitou a proposta de um amigo para viver no conforto de um apartamento na vila de Broadford.

Segundo o jornal The Guardian, Leppard decidiu abandonar seu "habitat" porque começou a sentir o peso da idade. Uma simples jornada de caiaque por obter suprimentos estava se tornando uma tarefa difícil. Além disso, não dá pra dizer que sua antiga "casa", com chão batido, sem janelas e de paredes de pedra é o local mais adequado para se viver.

Mas na sua nova residência, Leppard continua mantendo hábitos simples. Ele tem um sofá e uma cadeira na sala e uma pequena mesa na cozinha. "Eu não tenho interesse em ter uma TV ou um rádio. Também não quero ter telefone", afirma. "Minha vida não mudou muito - eu nunca incomodei ninguém. Não estou interessado no que acontece lá fora".

Leppard decidiu viver sozinho na natureza depois de ter servido nas forças armadas britânicas por 28 anos. "Quando eu servia, eu gostava das atividades solitárias, como saltar de pára-quedas, velejar e remar. Então eu decidi escapar da cidade onde eu vivia, e a qual eu odiava. Desde então eu nunca me senti sozinho", afirmou o homem-leopardo.

Segundo ele, seu corpo não tinha tatuagens durante seus anos de serviço militar. Ele escolheu marcar o corpo com formas parecidas com as do leopardo não porque tinha algum interesse particular no felino, mas sim porque era mais fácil para o artista tatuar. Depois, sua aparência o ajudou a ganhar o dinheiro que financiou sua vida isolada, de acordo com o Guardian.

Ele diz não se arrepender da vida que viveu, e está contente de ter se mudado para um lugar mais confortável. Perguntado se gostaria de ter um gato para lhe fazer companhia, ele respondeu que os felinos domésticos são as criaturas mais egoístas. "Eles apenas se importam com eles mesmos", disse Leppard.

domingo, 26 de outubro de 2008

A importância do colete antibalístico




Proteção balística individual

A primeira utilização, pelo homem, de algo semelhante ao que hoje nós conhecemos como proteção balística, foram as peles de animais, usadas ainda pelos primitivos para se proteger das garras e presas dos predadores. Muito depois, surgiram os escudos, feitos de peles no início, e então de materiais rígidos: os metais. Os metais também foram usados pelos romanos na proteção do corpo, como placas peitorais, e depois como armaduras de corpo inteiro na idade média. Com o advento das armas de fogo (por volta de 1500 d.C), as proteções existentes tornaram-se obsoletas e logo perderam espaço.

A proteção balística flexível, como hoje conhecemos, teve suas origens ainda no Japão medieval, onde os guerreiros usavam peças confeccionadas em seda para se proteger do fio das espadas e das flechas inimigas. Somente no século XIX é que os americanos tentaram utilizar a seda com fins de proteção balística, contudo, esta se mostrava efetiva contra os projéteis de baixa velocidade (em torno de 100 a 150 m/s) das armas usadas até então, e ineficazes contra a nova geração de armas raiadas, que atingiam mais de 200 m/s. Além disso, o custo da seda era altíssimo – o equivalente a 2.500 reais de hoje – por unidade.

A próxima geração de material balístico viria durante a Segunda Guerra Mundial. O nylon balístico era eficiente contra fragmentos de projéteis e explosões, mas não detinha a maior parte dos projéteis de pistolas e fuzis. Além do quê, eram extremamente grandes e desajeitados, mal servindo para fins militares.

Os anos 60 trouxeram maus fluidos para os policiais americanos. O número de policiais mortos em serviço cresceu assustadoramente, e o governo tomou providências (Ah! Se aqui no Brasil fosse assim...). Mais de três milhões de dólares foram gastos em pesquisas para se desenvolver um material que atendesse às necessidades dos policiais.

Materiais Balísticos

Curiosamente, a resposta surgiu na DuPont (aquela da lingerie), que tentava desenvolver um tecido que substituísse o aço dos pneus de veículos, fabricado de fibra de aramida. Procurados pelo governo, testes foram realizados com o Kevlar®, que acabou sendo adotado como o material balístico padrão por muitos anos. Várias versões do Kevlar® foram usadas desde então, entre elas, o Kevlar®29, o Kevlar®129, o Kevlar®Correctional (que protege também contra facas e estiletes) e, por último, em 96, o Kevlar®Protera.

A Allied Signal, outra empresa americana, fabricou uma fibra de polietileno ultra fina e resistente, batizada de Spectra®, que deu origem ao material denominado Spectra®Shield (shield significa escudo, em inglês). A mesma Allied Signal desenvolveu também um material derivado de aramida, chamado de Gold Shield®. Outros derivados surgiram, como Gold Shield® LCR e Gold-Flex®.

Outro derivado de fibra de aramida foi desenvolvido por Akzo Nobel, e denominado Twaron®, bem como das Netherlands surgiu o Dyneema®. De propriedades similares, estes materiais apresentam sutis diferenças de peso, cor, flexibilidade e custo. É importante saber que estes materiais não são utilizados somente na confecção de coletes a prova de balas, mas também em capacetes, cordas, roupas, na aeronáutica e outros.

A última fibra balística a ser desenvolvida foi criada no Japão, e recebeu o nome de zylon. Esta fibra apresenta grandes inovações em termos de peso, ventilação e flexibilidade, mas não foi ainda totalmente testada e aprovada pelas maiores polícias do mundo.

Outras tecnologias são utilizadas na confecção de materiais balísticos, para obter resultados de conforto e impermeabilidade, como é o caso do GoreTex® e CoolMax®.

No fabrico de proteção balística rígida, os materiais são moldados através de resinas, dando forma aos capacetes, escudos, joelheiras e caneleiras. Nos equipamentos rígidos, os níveis de proteção também obedecem a norma citada abaixo.

Como é feito e como funciona

Uma placa balística flexível é confeccionada sobrepondo-se camadas de material balístico e outros materiais, dependendo do efeito desejado. Essas camadas são costuradas firmemente umas às outras. Depois esta placa, ou painel balístico, é inserido dentro de uma capa, feita de tecido comum de acordo com o padrão de uniforme da instituição específica.

Basicamente, os diversos materiais balísticos atuam da mesma forma. Quando o projétil se choca contra a veste, ele é pego em uma rede de fios finos e resistentes, que freiam o movimento giratório do projétil e fazem-no se deformar. Assim, além de impedir a penetração, a veste ainda distribui a força do impacto por uma área bem maior, anulando, ou melhor, diminuindo os efeitos da transferência de força cinética para o corpo, ou o blunt trauma, como é chamado. Para ter efeito contra os calibres de grandes velocidades, como o 7,62 mm, o 5,56mm e o 30-06, é necessário reforçar a veste com uma placa rígida que distribui melhor o impacto, geralmente confeccionada em cerâmica.

Os materiais balísticos, na forma dos coletes, não protegem somente contra projéteis. São inúmeros os casos de policiais que sobreviveram a acidentes de trânsito graças aos coletes balísticos. Determinados materiais protegem também contra instrumentos perfurantes, como é o caso do Kevlar®Correctional, usado por carcereiros nas penitenciárias americanas.

Níveis de Proteção

Os níveis de proteção das vestes balísticas são definidos pela NIJ Standard 0101.04. Esta norma, editada pelo National Institute of Justice, um departamento do Ministério da Defesa dos Estados Unidos, foi aceita internacionalmente como um padrão de níveis de proteção balística. Veja a tabela:

Nível Calibres Massa(grains) Veloci-dade(m/s)
I .22 LR.38*.32 (arma curta)*.25 (6,35) 40158 320259
II – A .357 Magnum9 mm*.45.38+P 158124 381332
II .357 Magnum9 mm 158124 425358
III - A 9 mm.44 Magnum 124240 426426
III 7,62*.223 (5,56)*Gauge 12 150 838
IV 30-06 166 868
Special type Mediante especificação do interessado - -
*Os calibres marcados com o asterisco possuem fatores inferiores aos demais da mesma classe. Contudo, munições especiais não se incluem no nível de proteção.

Outro tópico de extrema importância observado pela NIJ Standard 0101.04 é a deformação da veste diante de um impacto, isto é, a proteção oferecida contra o blunt trauma. Os testes são feitos efetuando-se disparos contra uma placa balística colocada sobre plastilina, uma massa de consistência semelhante ao corpo humano. Os coletes de nível III acima necessitam do reforço das placas de cerâmica para redução do blunt trauma.

A tabela acima foi simplificada, pois ainda são considerados: o tipo de projétil, o ângulo dos impactos, a incidência de impactos por cm² , a resistência à umidade.

As expressões “modelo” e “estilo”, são meras convenções dos fabricantes para identificar uma veste: elas se referem à abrangência da placa, à forma de fixação, á quantidade de bolsos, etc. Para o policial, a configuração da placa, isto é, a abrangência do colete, é tão importante quanto o nível de proteção.

Escolhendo o nível e modelo apropriado

Alguns pontos devem ser observados na escolha do modelo e estilo de um colete:

·A abertura do pescoço não pode ser muito alta, nem a placa frontal muito longa, para não enforcar o policial ao sentar;

·As alças do ombro devem ser largas, mas não o bastante para restringir os movimentos;

·Os furos do pescoço e braços devem ser amplos, para garantir flexibilidade e conforto, sem contudo comprometer a proteção;

·As placas devem ser ajustáveis, para que o colete não se deforme ou surjam espaços vazios entre os painéis. As placas frontal e traseira devem se sobrepor;

·Para mulheres, a placa frontal deve considerar o volume dos seios, para manter o conforto;

·O peso deve ser o menor possível.



Uma vez que os coletes balísticos são tanto mais pesados e incômodos quanto maior for o nível de proteção, não é sensato adotar um colete nível IV para toda a força policial. Afinal, um policial empregado no policiamento a pé não conseguiria envergar por seis horas um colete que pesa em torno de dez quilos.

A maneira mais científica de se selecionar o nível de proteção apropriado é a análise estatística das ocorrências envolvendo armas de fogo. Apesar de não dispormos de dados concretos (nossas polícias não fazem estatísticas), poderíamos afirmar que a grande maioria dos disparos sofridos por policiais é de calibre .38 ou inferior, portanto, o nível apropriado seria o II, para uma guarnição de radiopatrulha.

Outra forma, menos científica porém coerente, é determinar o nível de proteção pela arma que o próprio policial está usando. Isto porque a arma de porte indica o que o policial espera encontrar pela frente, além do que o número de policiais morto pela própria arma é relevante: nos EUA, o percentual chega a 16%. Olhando desta forma, a escolha do nível II para o radiopatrulhamento se confirma, enquanto que para um grupo especial cuja arma básica é um fuzil calibre 7,62, o nível III seria o mais indicado.

Cuidando do seu colete

As capas dos coletes balísticos podem ser lavadas como uma roupa comum. É conveniente não usar alvejantes nem secar ao sol, para não desbotar.

As placas podem ser lavadas com um pano ou esponja úmida e detergente, mas nunca submersas em água. Solventes ou produtos à base de álcool jamais poderão ser usados. A secagem deve ser à sombra.

Uma inspeção visual deve ser feita semanalmente, a fim de identificar defeitos ou desgastes nas placas balísticas. Ao serem retirados do corpo, os coletes devem ser colocados sobre uma superfície plana ou em cabides, para que não se deformem. Este é, aliás, um dos grandes problemas nos coletes mais novos que, por serem altamente flexíveis, deformam-se com facilidade quando não cuidados devidamente.

Lembre-se que o material balístico é como um tecido: ele se desgasta, relaxa, afrouxa as malhas e envelhece. Se bem cuidado, um colete excede em muito tempo o seu prazo de validade normal, especificado pelo fabricante. É o cuidado na manutenção que dita a validade do colete. A DuPont já testou coletes com mais de oito anos de serviço e constatou que eles mantinham as mesmas características originais. Por outro lado, coletes com dois anos de serviço mostraram-se inservíveis por falta de cuidado. O ideal, portanto, é retestar os coletes depois de três a cinco anos de uso.

Porque usar um colete?

Eu mesmo já protestei contra o uso constante de coletes à prova de balas. Sempre achei os coletes incômodos e quentes. Nos dias de hoje, contudo, o colete se tornou parte indispensável do equipamento policial em qualquer circunstância. Responda à pergunta abaixo e tire suas próprias conclusões:
“Se você pudesse fazer algo capaz de aumentar em 14 vezes suas chances de sobrevivência num confronto, você faria?”
Se a sua resposta foi sim, então use um colete à prova de balas!!!


Este artigo é dedicado à memória do SD PM Adevone Mesquita da Silva, meu companheiro do BPMChoque em muitas ocorrências e amigo para todas as horas. Que Deus o receba com todas as honras que lhe são devidas.


Baseado em : Selection and Application Guide to Police Body Armor – NIJ Guide 100-01. U.S. Department of Justice.

Colaboração: Rodrigo Victor da Paixão – Cap PM*
ex-comandante do Grupo de Ações Táticas Especiais da PMGO, atualmente servindo na Superintendência de Segurança do Gabinete Militar da Governadoria.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Coca-Cola com cocaína


Anúncio da Coca-Cola ainda com cocaína.

"Drink Coca-Cola 5¢", an 1890s advertising poster showing a woman in fancy clothes (partially vaguely influenced by 16th- and 17th-century styles) drinking Coke. The card on the table says "Home Office, The Coca-Cola Co. Atlanta Ga. Branches: Chicago, Philadelphia, Los Angeles, Dallas". Notice the cross-shaped color registration marks near the bottom center and top center (which presumably would have been removed for a production print run). Someone has crudely written on it at lower left (with an apparent leaking fountain pen) "Our Faovrite" [sic].

This has been edited from the image http://memory.loc.gov/master/pnp/cph/3g10000/3g12000/3g12200/3g12222u.tif on the Library of Congress website.



Coca-Cola (também conhecida no Brasil por Coca e em Portugal por Coca-Cola e Coke nos USA) é um refrigerante de noz de cola vendido em mais de 140 países. É produzida pela Coca-Cola Company, que também é ocasionalmente referida como Coca-Cola ou Coca. É a marca mais conhecida e vendida do mundo. A maior concorrente da Coca-Cola é a Pepsi.

Originalmente produzida como um remédio patenteado, quando foi inventada em 1886, a Coca-Cola alterou sua fórmula original e gradativamente conquistou novos mercados. Um dos responsáveis pelos sucesso da Coca-Cola Company foi o empresário Asa Griggs Candler, cujas táticas agressivas de marketing levaram a empresa a conquistar largas fatias do mercado de refrigerantes no mundo, a partir do século XX até os dias atuais.

A Coca-Cola Company enfrenta acusações de que a Coca-Cola traria efeitos colaterais perversos na saúde de consumidores, não havendo comprovação científica ou consenso sobre o assunto. Há também acusações de práticas monopolistas por parte da multinacional.

No Brasil, a sua matriz está localizada na cidade do Rio de Janeiro.

Índice [esconder]
1 História
2 Fórmula da Coca-Cola
2.1 Saborizante
2.2 Controvérsia sobre o uso de folha de coca
3 Publicidade e a Coca-Cola
3.1 Onipresença dos anúncios
3.2 Compra da Columbia Pictures
3.3 Coca-Cola vs. Papai Noel
3.4 Uso de crianças em propagandas
3.5 Guerra das colas
4 Questões quanto à saúde
4.1 Controvérsia sobre acidez
4.2 Controvérsia sobre danos à saúde a longo prazo
4.3 Acusações extremas e lendas urbanas
5 Popularidade conforme o país
6 Referências
7 Ver também
8 Ligações externas



[editar] História

O museu World of Coca-Cola em Las Vegas, EUA, mostra memorábilia de várias décadas e oferece amostras de refrigerante de vários lugares do mundo.A Coca-Cola foi inventada pelo farmacêutico John S. Pemberton, um ex-coronel tenente do Exército dos EUA, em 1886 em Columbus, no estado da Geórgia, EUA. Recebeu originalmente o nome de Pemberton's French Wine Coca. Ele foi inspirado pelo sucesso formidável de um produto similar europeu de Angelo Mariani.

A bebida recebeu o nome de Coca-Cola porque originalmente o estimulante misturado na bebida era cocaína, que vem das folhas de coca da América do Sul. A bebida também recebeu seu sabor de noz de cola. Hoje, o estimulante foi alterado para cafeína, mas o sabor ainda é feito através de noz de cola e folha de coca. A cocaína foi removida das folhas e a bebida não contém traços da droga. Era vendida originalmente como remédio por cinco cents o copo. Depois foi relançada como bebida leve. As primeiras vendas foram feitas na Farmácia de Jacob na cidade de Atlanta, em 8 de maio de 1886, e pelos primeiros oito meses apenas nove bebidas eram vendidas durante o dia todo. Pemberton anunciou a bebida pela primeira vez em 29 de maio do mesmo ano no Atlanta Journal.

A princípio, o concentrado era embalado em pequenos barris de madeira, na cor vermelha. Por isso, o vermelho foi adotado como cor oficial da bebida. Até 1915, uma pequena quantidade de cocaína estava entre os ingredientes do refrigerante.

Asa Griggs Candler comprou Pemberton e seus parceiros em 1887 e começou a realizar uma campanha agressiva de marketing do produto. A eficiência destes anúncios não seria percebida até muito tempo depois. Pela época de seu 50º aniversário, a bebida já tinha alcançado status de ícone nacional americano.

A Coca-Cola foi vendida em garrafas pela primeira vez em 12 de março de 1894 e as primeiras latas de alumínio da Coca apareceram em 1955. O primeiro engarrafamento da Coca-Cola ocorreu em Vicksburg, Mississippi na Biedenharn Candy Company em 1891. Seu proprietário era Joseph A. Biedenharn. As garrafas originais eram garrafas Biedenharn, muito diferentes do visual atual de silhueta que as garrafas possuem. Asa Candler estava em dúvidas quanto ao engarrafamento da bebida, mas os dois empreendedores que propuseram a idéia foram tão persuasivos que Candler assinou um contrato dando-lhes controle total do procedimento. Porém o contrato tornar-se-ia ainda um problema por décadas para a companhia, devido aos seus termos um tanto falhos.

Quando os Estados Unidos entraram na Segunda Guerra Mundial, os soldados estado-unidenses enviaram cartas para a Coca-Cola Company, pedindo que a bebida lhes fosse fornecida. Motivada com as cartas, a Coca-Cola desenvolveu "fábricas" móveis que foram enviadas para as frentes de batalha junto com técnicos da empresa, que garantiam a produção e a distribuição da bebida para os soldados. Apesar dos custos de produçao na frente de batalha serem elevados, a companhia decidiu arcar com os mesmos, numa tática de marketing, vendendo o refrigerante pelo mesmo preço praticado nos EUA. Tendo em vista a sua associação com os produtos americanos e os Estados Unidos, ela acabou exercendo o papel de um símbolo patriótico. A popularidade da bebida aumentou bastante após a guerra, quando os soldados voltaram fazendo propaganda do refrigerante. Então foi lançado um tipo de embalagem que vendia 6 garrafas de coca-cola (sixposts), a qual se tornou preferida das donas de casa americanas.

Hoje em dia, são vendidas cerca de 40 mil latinhas e garrafas de Coca-Cola por segundo nos Estados Unidos. O produto é vendido em mais de 140 países.


[editar] Fórmula da Coca-Cola
A fórmula exata da Coca-Cola é um segredo comercial. A cópia original da fórmula é guardada no cofre principal do SunTrust Bank em Atlanta. Seu predecessor, a Trust Company, supervisionou a oferta pública inicial em 1919 da Coca-Cola Company ([1]). Uma lenda urbana diz que apenas dois executivos têm acesso à fórmula, com cada um deles tendo acesso a apenas metade da fórmula. De fato, a Coca-Cola possui uma regra restringindo o acesso a apenas dois executivos, cada um sabendo a fórmula completa e outros, além da dupla descrita, conhecem o processo de formulação.

A fórmula original da Coca-Cola foi publicada no livro Por Deus, Pela Patria e Pela Coca-Cola, de Mark Pendergrast:

Citrato de cafeína - 1 onça (28,350g)
Extrato de baunilha - 1 onça
Saborizante - 2 1/2 onças
Re. côco - 4 onças
Ácido cítrico - 3 onças
Suco de lima - 1 quarto
Açúcar - 30 libras-peso
Água - 2 1/2 galões (3,785 litros)
Caramelo - o suficiente
Misture o ácido de cafeína e suco de lima em um quarto de água fervente e acrescente baunilha e saborizante quando frio.

[editar] Saborizante
Óleo de Laranja 80
Óleo de Limão 120
Óleo de Noz-Moscada 40
Óleo de Canela 40
Óleo de Coentro 20
Nerol 40 Álcool 1 Quarto

[editar] Controvérsia sobre o uso de folha de coca
Apesar de a Coca-Cola Company negar há muito tempo, a agência anti-drogas peruana, DEVIDA, disse que a companhia compra 115 toneladas de folha de coca do Peru e 105 toneladas da Bolívia por ano, para usar como ingrediente em sua fórmula secreta [2]. Recentemente, na Bolívia, o presidente Evo Morales afirmou que a Coca-Cola usa a produção de coca na fabricação do refrigerante.

No Brasil, já há alguns anos a fabricante de refrigerantes Dolly vem brigando na justiça pela cassação do registro da Coca-Cola junto ao Ministério da Agricultura e recentemente um laudo do Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal concluiu que a Coca-Cola usa folhas de coca como matéria-prima na fabricação do extrato vegetal (também chamado de mercadoria nº 05) [3]. O referido laudo diz o seguinte: ...segundo os dados publicados na literatura científica [...] as folhas de coca provenientes do vegetal cientificamente denominado Erytroxylum novagranatense, variedade truxillensi, cultivada no Peru, são utilizadas como matéria-prima na fabricação do extrato vegetal a partir do qual é fabricado o refrigerante Coca-Cola. [4]

Em sua defesa, a empresa alega que as folhas de coca não poderiam ser comercializadas por uma empresa que vende quase 1 bilhão de copos do refrigerante por dia no mundo, e que, sendo assim, teria de reexportar essas folhas de coca para mais de 150 paises no mundo, a um custo que seria "astronômico" e que considera "teoricamente impossível", uma vez que o preço de uma lata de Coca-Cola, por exemplo no Brasil, gira em torno de pouco mais de 1 real nos supermercados. O preço brasileiro para o consumidor atinge, no entanto, 2 reais em máquinas automáticas, podendo atingir até 3 reais em alguns estabelecimentos comerciais. Em outros países, entretanto, como na França, o preço ao consumidor de uma lata de Coca-Cola é bem mais alto, sendo equiparável em alguns casos ao de uma taça de vinho (cerca de 5 euros). O argumento da empresa não leva em conta, também, quantos gramas ou microgramas de folha de coca seriam necessários para cada copo ou lata do refrigerante, no caso de ser verdadeira a alegação de uso da folha de coca.

De qualquer forma, a folha de coca - o objeto da controvérsia - não é considerada nociva à saúde, e não possui qualquer propriedade alucinógena ou entorpecente, sendo legalmente produzida em países andinos como a Bolívia e o Peru, e largamente consumida pelas populações locais, a fim de oxigenar o sangue e neutralizar os efeitos da altitude e do ar rarefeito sobre o corpo humano, evitando assim problemas respiratórios. Sua relação com a cocaína é meramente uma relação entre produto bruto e produto derivado, tal como a relação entre um barril de petróleo e uma lata de tinta, ou entre um chumaço de algodão e uma camisa.


[editar] Publicidade e a Coca-Cola

Desde o início, os anúncios faziam parte da estratégia de venda da Coca-Cola. Nesta foto, um anúncio do ano de 1900.A Coca-Cola passou por vários slogans em seus anúncios na sua longa história, incluindo "A pausa que refresca", "Gostaria de comprar uma Coca para o mundo", "Isso é que é", "Coca-Cola dá mais vida a tudo...", "Tudo vai melhor com Coca-Cola", "Emoção pra valer", além das mais recentes: "Essa é a real", "Tudo de vibe" e as últimas lançadas "Viva o que é bom." e "Viva o lado Coca-Cola da Vida". Tambem é sobejamente conhecida a frase "Sempre Coca-Cola", assim como, em Portugal, o famoso slogan criado pelo poeta Fernando Pessoa : "Primeiro estranha-se, depois entranha-se!"


[editar] Onipresença dos anúncios
Os anúncios da Coca foram sempre muito penetrantes e influentes, já que um dos objetivos de Woodruff era assegurar que todo mundo na Terra bebesse Coca-Cola como sua bebida preferida. Em alguns lugares, anúncios da Coca-Cola são quase onipresentes, especialmente em áreas mais ao sul da América do Norte, como em Atlanta, onde a Coca surgiu. Os Jogos Olímpicos de Verão de 1996 foram em Atlanta, e como resultado, a Coca-Cola recebeu publicidade gratuita. A Coca-Cola também foi a primeira patrocinadora dos Jogos Olímpicos, nos Jogos de 1928 em Amsterdã.


Trem na Alemanha completamente anunciado pela Coca-Cola
[editar] Compra da Columbia Pictures
Numa tentativa de aumentar seu portfólio, a Coca-Cola comprou a Columbia Pictures em 1982. A Columbia ofereceu publicidade para produtos da Coca em seus filmes enquanto esteve sob comando da empresa, mas depois de alguns sucessos, a Columbia começou a ir mal nas finanças, e foi largada pela companhia em 1989.


[editar] Coca-Cola vs. Papai Noel
A publicidade da Coca-Cola tem tido um impacto significativo na divulgação da cultura norte-americana, sendo freqüentemente creditada à bebida a "invenção" da imagem moderna do Papai Noel como um homem idoso em roupas vermelhas e brancas, justamente as cores da Coca-Cola. Apesar disso, a companhia começou a promover esta imagem de Papai Noel somente na década de 1930, nas suas campanhas de inverno; mas usar esta imagem de Papai Noel já era comum antes disso [5]. Na década de 1970, uma canção de um comercial da Coca-Cola chamado "I'd Like to Teach the World to Sing (eu gostaria de ensinar o mundo a cantar)", produzida por Billy Davis, tornou-se uma música popular de sucesso, mas não há evidências de que tenha, de fato, ajudado a aumentar as vendas do produto.


[editar] Uso de crianças em propagandas
A Coca-Cola tem a política de evitar usar crianças menores de 12 anos de idade em suas propagandas, como resultado de um processo no início do século XX que alegou que a cafeína da Coca era perigosa para crianças. Apesar disso, mais recentemente, isto não fez a companhia parar de ter como público-alvo jovens consumidores. Além disso, não ficou claro quão segura a Coca é para o consumo de jovens e crianças ou até mesmo para mães grávidas.


[editar] Guerra das colas
Durante a década de 1980, a Pepsi-Cola realizou uma série de anúncios televisivos mostrando pessoas que participaram em testes de gosto na qual expressaram sua preferência pela Pepsi em relação à Coca. A Coca-Cola também exibiu anúncios para combater os da Pepsi, num incidente às vezes chamado, no meio publicitário, de "a guerra da cola". Um dos anúncios da Coca comparou o então chamado "desafio Pepsi" a dois chimpanzés decidindo que bola de tênis tinha mais tecido. Após isso, a Coca-Cola manteve sua liderança no mercado global de refrigerantes, embora a Pepsi seja a líder em alguns mercados regionais, como no Rio Grande do Sul (Brasil).


[editar] Questões quanto à saúde

[editar] Controvérsia sobre acidez
A Coca-Cola vem sendo alvo de acusações, principalmente pelo seu suposto grande nível de ácido (seu valor pH é 2.5, entre vinagre e suco gástrico, resultando em que, devido a essa grande acidez, não seria recomendável ingerir o refrigerante durante as refeições). Alguns fatos pitorescos são usados para ilustrar a acusação, como por exemplo, o de que "a Coca pode dissolver um dente em 24 a 48 horas".

A empresa se defende afirmando que seu produto não é mais perigoso que outros refrigerantes, e que ele contém menos ácido cítrico do que uma laranja [6] [7] [8], havendo também evidências nesse sentido, apresentadas em inúmeros casos judiciais contra a Coca-Cola Company desde os anos 20.


[editar] Controvérsia sobre danos à saúde a longo prazo

Líquido negro (ou cor de caramelo escuro) semi-transparente caracterísitico da bebida.Enquanto muitos nutricionistas acreditam que "refrigerantes e outras comidas ricas em calorias mas pobres em nutrientes podem encaixar-se numa boa dieta" [9], é um dito popular que bebidas como a Coca-Cola podem causar danos à saúde se consumidas em excesso, particularmente em crianças jovens, cujo consumo de refrigerante compete, ao invés de complementar, com uma dieta balanceada. Por outro lado, estudos mostraram que aqueles que bebem refrigerantes regularmente têm menos quantidade de cálcio (o que pode contribuir para a osteoporose), magnésio, ácido ascórbico, vitamina B2 e vitamina A [10] [11]. Não há informações disponíveis sobre a fonte financiadora de tais estudos.

A bebida também foi criticada por usar ácido fosfórico [12] e cafeína [13]. Muitas destas críticas foram desmentidas pela companhia como mitos urbanos. [14] [15]


[editar] Acusações extremas e lendas urbanas
Há ainda acusações mais extremas, sem qualquer embasamento científico, de que o produto causaria "risco à vida" devido à sua água carbonada, além de afirmações curiosas como a de que "alguém morreu uma vez numa competição de quem bebia mais Coca".

Há diversas lendas urbanas ou curiosidades folclóricas sobre a bebida, inclusive uma que diz que a Coca-Cola já foi verde, entre outras. As inúmeras lendas urbanas sobre a Coca-Cola fizeram páginas de Internet terem seções completamente dedicadas a isso, como o Cokelore.


[editar] Popularidade conforme o país
A Coca-Cola é a bebida mais vendida na maioria dos países, mas não em todos. Lugares como a Escócia, onde a bebida local Irn Bru é a líder em vendas, e em Québec e Ilha do Príncipe Eduardo, no Canadá, onde a Pepsi é a líder do mercado, fogem dessa regra. A Coca também é menos popular em países do Oriente Médio e Ásia, como os territórios palestinos e a Índia — na maioria devido ao sentimento anti-ocidental. Mecca-Cola, uma marca "islamicamente correta", virou sucesso no Oriente Médio há poucos anos.

A Fórmula Sagrada da Coca-Cola
Extraído na íntegra de "Por Deus, Pela Pátria e Pela Coca-Cola", de Mark Pendergrast. Apêncice pág 379-383. Editora Ediouro, 1993. O livro "coincidentemente" sumiu das livrarias e sebos do país.

QUANDO RESOLVI escrever uma história geral da Coca-Cola, não tinha idéia de que descobriria a fórmula original, e ainda menos no ventre da própria companhia. Afinal de contas, tratava-se do segredo mais bem guardado do mundo, um segredo que a companhia se recusara a revelar a despeito de duas ordens judiciais. Em 1977, a companhia preferiu deixar a Índia a entregar a fórmula secreta a um insistente governo. Ainda assim, parece que consegui o impossível. Certo dia, Phil Mooney, o arquivista, trouxe-me uma pasta com papéis amarelados e dilacerados, que haviam sido cuidadosamente restaurados e postos entre lâminas de plástico. Explicou-me que eles constituíam os restos do livro de fórmulas de John Pemberton, doados à companhia na década de 1940.

Eu já conhecia a história desse livro. Quando rapaz, John P. Tumer viajara de sua cidade natal, Columbus, Geórgia, para trabalhar como aprendiz de John Pemberton nos últimos anos de vida deste último. Após a morte de Pemberton, Tumer levou o livro em sua volta para Columbus, onde trabalhou como farmacêutico durante muitos anos. Em 1943, o filho de Tumcr mostrou o livro a um membro da diretoria da Coca-Cola, abrindo-o na página que continha a fórmula. O diretor em causa convenceu o herdeiro de Tumer a entregar-lhe o livro. ''Deus do Céu!" exclamou Harrison, o presidente da diretoria, ao ver a fórmula. ''Onde foi que você conseguiu isso?" E essa foi a última vez em que alguém botou os olhos na fórmula.

A pasta que recebi dos arquivos da Coca-Cola dizia que este era "o livro de descrições e fórmulas pertencentes ao Dr. I. S. Pemberton, ao tempo em que era farmacêutico em Columbus", mas isso quase com certeza é incorreto, uma vez que uma das receitas, para uma cola de aipo, inclui pelo nome a Coca-Cola como ingrediente, o que a coloca sem dúvida nenhuma em 1888, uma vez que era a bebida em que Pemberton trabalhava quando de sua morte. O coração batendo em disparada, folheei com todo cuidado as páginas preservadas, embora, claro, pensasse que a companhia escondera um item crucial em algum lugar. Por isso mesmo, fiquei atônito ao descobrir o que parecia ser uma receita de Coca-Cola, sem nome, exceto por um ''X" no alto da página:


Citrato de Cafeína 1 onça (28,350g)
Ext. de Baunilha 1 onça
Saborizante 2 112 onças
F.E. Coco 4 onças
Ácido cítrico 3 onças
Suco de Lima 1 quarto
Açúcar 30 libras-peso
Água 2 1/2 galões (3,785 litros)
Caramelo o suficiente
Misture o Ácido de Cafeína e Suco de Lima em 1 quarto de água fervente e acrescente baunilha e saborizante quando frio.
Saborizante:
óleo de Laranja 80
óleo de Limão 120
óleo de Noz-Moscada 40
óleo de Canela 40
óleo de Coentro 20
Nerol 40
Álcool 1 Quarto
deixe descansar 24h
A seção 'saborizante" é obviamente a parte 7X da fórmula, embora haja apenas seis ingredientes (a menos que se conte o álcool como o sétimo). Talvez ele tenha adicionado mais tarde baunilha à seção saborizante como sétimo ingrediente. 'F.E. Coco' significa fluid extract of coca (extrato fluido de coca), e nozes de cola não são mencionadas, mas apenas 'Citrato de Cafeína". Pemberton, quase com certeza, recebia a cafeína da Merck, de Darmstadt, Alemanha, porque elogiava essa firma como produtora de uma forma superior de estimulante, extraído de nozes de cola.
Tirei fotocópia do documento, mas simplesmente não consegui acreditar que alguém na companhia me entregasse a fórmula original. Com certeza, devia ser apenas uma precursora do produto autêntico. Mas em seguida tive confirmação inesperada de que descobrira, por acaso, algo muito mais valioso do que pensava. Ao entrevistar Mladin Zarubica, o Observador Técnico que produzira a "Coke branca'' para o general Zhukov, disse-lhe que tinha a fórmula. '; Oh, tem mesmo?" disse ele. '''Eu também. A companhia me deu uma cópia quando tive que tirar a cor para Zhukov. Quer vê-Ia?" Eu queria, realmente. Ao chegar a fotocópia de sua correspondência, datada de 4 de janeiro de 1947, ela continha exatamente a mesma fórmula que eu encontrara nos arquivos - mesmos volumes, mesmo formato, até mesmo o erro de grafia em 'F.E. Coco.' Notei uma única diferença: a fórmula de Zarubica era incompleta, deixando de fora os dois ingredientes finais da 7X d (coentro e nerol). Parecia que a companhia não quisera liberar a fórmula completa e tomara a precaução de alterá-la dessa maneira.

Fiquei estarrecido. Eu não só entrara de posse da fórmula original de Pemberton, guardada nas entranhas da própria companhia, mas ela aparentemente sobrevivera sem mudança durante pelo menos 60 anos, após o inventor a ter escrito naquele papel ora restaurado. Mas isso era um autêntico mistério. Contradizia a declaração de Howard Candlcr de que seu pai, Asa, mudara substancialmente a maneira de fabricação da Coca-Cola. E por que a fórmula de Zaiubica não mencionava folha descocainizada de coca ou o fato de a companhia não usar mais ácido cítrico, mas fosfórico? Ou que o volume de cafeína fora reduzido? E essas não eram as únicas mudanças introduzidas na fórmula. O velho Asa aparentemente andara também mexendo na 7X Ao longo dos anos, mudara também o volume e tipo do adoçante.

Parece que mesmo quando os ingredientes e proporções originais são revelados, persiste a mística em torno da fórmula. Minha conclusão final: a companhia, na verdade, não deu a Mladin Zarubica, em 1947, a fórmula em uso corrente - e nem mesmo tinha versão parcial da mesma. Em vez disso, Zarubica recebeu uma versão truncada da fórmula original, o suficiente para que seu químico descobrisse como tornar branca a Coke marrom. Permanece o mistério de por que a companhia me entregou a fórmula existente em seus próprios arquivos. Só posso supor que havia outra receita da Coca-Cola claramente rotulada no livro de Tumer, que foi escondida, mas ninguém examinou com atenção o resto da fórmula, e a variedade ‘X' passou despercebida.

Em seu livro de 1983, Big Secrets, Williain Poundstone dá sua versão da fórmula, e que é um palpite razoavelmente acurado da mistura corrente. Em um galão entram:

Açúcar: 2.400g em água suficiente para dissolver:
Caramelo: 37g
Cafeína: 3,lg
Ácido Fosfórico: 11g
Folha descocainizada de coca: 1,1g
Nozes de cola: 0,37g
Embeba a folha de coca e nozes de cola em 22g de álcool a 20%, coe e acrescente líquido ao xarope.
Suco de lima: 30g
Glicerina: 19g
Extrato de baunilha: 1,Sg
Saborizante 7X:
óleo de laranja: 0,47g
óleo de limão: 0,88g
óleo de noz-moscada: 0,07g
óleo de canela (canela chinesa): 0,20g
óleo de coentro: traços
Nerol: traços
óleo de lima: 0,27g

Misture em 4,9g de álcool a 95%, adicione 2,7g de água, deixe descansar por 24 horas a 60 graus F.[162C]. Uma camada turva se separará. Retire a parte clara do líquido e acrescente ao xarope.

Acrescente água suficiente para fazer 1 galão de xarope. Misture uma onça de xarope com água gaseificada para obter um copo de 6,5 onças.

Poundstone e várias outras fontes alegam que o óleo de alfazema pode também fazer parte da fórmula, e uma jovem especialista do departamento técnico, com quem andei certa vez num elevador, concordou comigo. Ela acabara de voltar de Grasse, onde durante séculos especialistas franceses extraíram várias essências de óleo - incluindo nerol (tirado de uma variedade de flores de laranjeira) e alfazema.

Embora a fórmula contida no Big Secrets possa aproximar-se muito, ela não confere com o depoimento feito sob juramento pelo Dr. Anton Amon, químico da Coca-Cola, em um recente caso judicial. Segundo ele, são necessárias 13,2 gramas de ácido fosfórico para fazer um galão de xarope, e não 11, e 1,86 grama de extrato de baunilha, e não 1,5g. Disse Anton que a companhia acrescenta 91,99 gramas de "um caramelo comercial de estabilidade forte", ou muito mais do que as 37 gramas de Poundstone. Não obstante, os ingredientes da fórmula são provavelmente exatos.

A começar com Asa Candler, ninguém na companhia se referia aos ingredientes pelo nome. Em vez disso, o açúcar era a Mercadoria #1; caramelo, Mercadoria #2; cafeína, Mercadoria #3; ácido fosfórico, Mercadoria #4; folha de coca e extrato de noz de cola, Mercadoria #5; mistura saborizante 7X, Mercadoria #7; baunilha, Mercadoria #8. Essa nomenclatura pegou, embora desde a era Candier os números 6 e 9 - talvez suco de lima e glicerina - tenham desaparecido, provavelmente absorvidos na 7X ou em algum outro ingrediente.

Estudei demoradamente os efeitos da folha de coca e da cola no corpo principal do texto. À parte isso, são na verdade fascinantes, ainda que inconclusivas, as histórias populares que cercam os demais ingredientes, considerando os volumes diminutos de cada um deles e a veracidade duvidosa de fontes antigas. A cássia, por exemplo, foi usada como cura para artrite, câncer, diabetes, tonteira, gota, dor de cabeça e dor de estômago. A noz-moscada combatia a infecção durante a Peste Negra, serviu como psicotrópico e narcótico, e é receitada na índia para disenteria, gases, lepra, reumatismo, ciática e dor de estômago. A baunilha é usada variadamente como afrodisíaco, estimulante ou anti-espasmódico, cura histeria, impede o aparecimento de cáries e reduz gases. E o mesmo se aplica aos demais ingredientes.

* * *

Uma vez que a fórmula secreta gerou volumes espantosos de dinheiro, não me surpreendeu que ninguém na companhia quisesse falar sobre ela. Tendo recebido permissão para entrevistar praticamente todo mundo na empresa, negaram-me, contudo, acesso a Mauricio Gianturco, chefe da divisão técnica. No fim, deixaram-me entrevistar Harry Waldrop, um ‘psicometrista graduado' (não é brincadeira, é esse mesmo o título dele) que, até cinco anos passados, em membro do corpo de elite de provedores de sabor que faz amostragens de partidas da Coca-Cola Classic.

Os membros do grupo conhecem a 7X tanto pelo cheiro quanto pelo gosto e podem discemir diferenças mínimas ocasionadas por envelhecimento. Da mesma maneira que alguns provedores de vinho podem provar um 1945 Mouton-Rothschild e diferenciá-lo de outro da safra de 1946, Waldrop pode identificar uma partida de xarope de Coke de dois meses de idade. ''Todos nós conhecemos o sabor e o aroma do material autêntico", diz Waldrop, "mas é difícil dizer isso em palavras. Só quando estão fora do padrão é que tentamos descrevê-los.'' Os membros do grupo podem se subdividir em pequenos grupos, por exemplo, para discutir um gostinho ligeiramente amargo que refugam. Embora todos os ingredientes sejam cuidadosamente medidos e submetidos a teste por cromatografia de gás e outros aparelhos científicos de aferição, Waldrop não acredita que o computador possa substituir o ser humano. "Um nariz eletrônico não poderia captar as sutilezas, a parte hedonística", garantiu-me ele.

Embora cientistas possam provavelmente identificar os diferentes ingredientes da Coca-Cola, e até mesmo estimar seus volumes aproximados, não podem, segundo funcionários da companhia, duplicar a mistura exata. Incrível como possa parecer, apenas duas pessoas em atividade na companhia supostamente sabem como misturar o 7X. Isso faz com que elas viajem constantemente de avião a Cidra, Porto Rico, e Drogheda, Irlanda, para reabastecer o suprimento dessas duas enormes fábricas de concentrado, que fornecem os tijolos para a maioria da Coke consumida no mundo. Há ainda no mundo outras fábricas menores de concentrado. Ninguém, claro, gostaria de falar sobre essas questões de logística.

A despeito de todo o mistério e paranóia acumulados em torno da fórmula famosa, certo dia um porta-voz da companhia baixou a guarda quando perguntei o que aconteceria se eu publicasse neste livro a fórmula autêntica, com instruções detalhadas. Ele sorriu largamente. "Mark", disse, "digamos que este é o seu dia de sorte. Acontece que tenho, aqui mesmo em minha mesa, uma cópia da fórmula.'' Abriu a gaveta e me entregou um documento fantástico.

- "Aí está. Agora, o que é que vai fazer com ela?"
- "Bom, vou incluí-Ia no meu livro."
- "E ... ?"
- "Alguém pode resolver estabelecer-se e concorrer com a The Coca-Cola Company."
- "E que nome ele vai dar ao produto?"
- "Bem, não poderá chamá-lo de Coca-Cola porque vocês o processariam. Vamos dizer que o chamem de Yum-Yum, e que insinuem, de uma forma a não dar razão a um processo judicial, que a Yum-Yum é na verdade a fórmula original da Coca-Cola."
- "Ótimo. E daí? Quanto vão cobrar por ela? Como vão distribuí-la? Como vão divulgá-la? Está entendendo aonde quero chegar? Gastamos mais de 100 anos e volumes inacreditáveis de dinheiro construindo o capital dessa marca. Sem nossas economias de escala e nosso inacreditável sistema de comercialização, quem quer que tentasse duplicar nosso produto não chegaria a lugar nenhum e teria que mudar coisas demais. Por que alguém se daria ao trabalho de ir comprar Yum-Yum, que é realmente igual à Coca-Cola mas que custa mais, quando pode comprar a Coisa Real em todo o mundo?''

Não consegui pensar em coisa alguma para dizer.


Extraído na íntegra de "Por Deus, Pela Pátria e Pela Coca-Cola", de Mark Pendergrast. Apêncice pág 379-383. Editora Ediouro, 1993. O livro "coincidentemente" sumiu das livrarias e sebos do país.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Retaliação é derrota


A pior de duas pessoas é
Aquela que, quando sofre abuso, retalia.
Aquela que não retalia
Vence uma batalha difícil de vencer.

Samyutta Nikāya 1 | 188
Pariyatti Daily Words of the Buddha (01/04/2008)

Download da música "Do you realize?", Banda: The Flaming Lips



Do you realize that you have the most beautiful face?
(Você se dá conta que tem o rosto mais bonito?)

Do you realize we're floating in space?
(Você se dá conta de que estamos flutuando no espaço?)

Do you realize that happiness makes you cry?
(Você se dá conta de que a felicidade te faz chorar?)

Do you realize that everyone you know someday will die?
(Voce se dá conta de que todos que você conhece um dia morrerão?)

And instead of saying all of your goodbyes, let them know
(E em vez de ficar dizendo sempre adeus, deixe-os saber)

You realize that life goes fast
(Que você se dá conta que a vida passa rápido)

It's hard to make the good things last
(É difícil fazer as coisas boas durarem)

You realize the sun doesn't go down
(Você se dá conta que o sol não se põe)

It's just an illusion caused by the world spinning round
(É apenas uma ilusão causada pelo mundo girando)

Do you realize?
(Você se dá conta?)

Do you realize that everyone you know someday will die?
(Voce se dá conta de que todos que você conhece um dia morrerão?)

And instead of saying all of your goodbyes - let them know
(E em vez de ficar dizendo sempre adeus, deixe-os saber)

You realize that life goes fast
(Que você se dá conta que a vida passa rápido)

It's hard to make the good things last
(É difícil fazer as coisas boas durarem)

You realize the sun doesn't go down
(Você se dá conta que o sol não se põe)

It's just an illusion caused by the world spinning round
(É apenas uma ilusão causada pelo mundo girando)

Do you realize that you have the most beautiful face?
(Você se dá conta que tem o rosto mais bonito?)

Do you realize?
(Você se dá conta?)

http://www.youtube.com/watch?v=qvdma6tCnjw

Visão divina


A visão beatífica da beleza divina é o conhecimento, digamos, do Intervalo Puro, da relação harmoniosa além dos objetos a que ela diz respeito.

Um exemplo material da beleza-em-si-mesma é o céu sem nuvens do anoitecer, que achamos inexprimivelmente amável, embora ele não possua nenhuma ordenação de arranjo, já que não há partes distintas a serem harmonizadas.

Achamos belo porque isso é um emblema da infinita Clara Luz da Vacuidade.

Chegamos ao conhecimento desse Intervalo Puro apenas quando aprendemos a matar o apego às criaturas, acima de tudo a nós mesmos.

Aldous Huxley, em "Seven Meditations"
(do livro "Huxley and God - Essays on Religious Experience")

Aceitar o karma


Conta-se também que Nagarjuna, grande mestre budista indiano, criador da escola Madhyamika, foi encontrado ferido e agonizante por seus discípulos. "Quem foi, onde está o agressor?", perguntaram eles. Nagarjuna respondeu: "Foi meu carma". Não ficou impaciente, não teve ódio. Encerrou com seu silêncio uma atitude sangrenta que poderia não ter fim.
Padma Samten, em "A Jóia dos Desejos"

domingo, 30 de março de 2008

Carma não é destino fixo

"Meditation", de Theresa Kennedy (clique na foto para ampliar). Em Angkor, Cambodia.
Carma é geralmente confundido com a noção de um destino fixo. Mas é mais como uma acumulação de tendências que podem nos travar em certos padrões de comportamento, que por si só resultam em mais acumulações de tendências de natureza similar. [...]

Ser um prisioneiro de carma antigo não é necessário. [...] Aqui está como o estado desperto muda o carma. Quando você medita, está tirando a permissão para que seus impulsos se transformem em ação. Nesse intervalo, pelo menos, você está apenas observando-os. Olhando para eles, você rapidamente vê que todos os impulsos na mente surgem e passam, que eles possuem sua própria vida, que não são você -- mas apenas pensamentos --, e que você não precisa ser comandado por eles. Não alimentando ou reagindo aos impulsos, você passa a compreender diretamente a natureza deles como pensamentos.

Esse processo realmente queima impulsos destrutivos nas chamas da concentração, equanimidade e não-ação. Ao mesmo tempo, insights e impulsos criadores não mais ficam tão espremidos pelos mais turbulentos e destrutivos. Eles são nutridos do modo como são percebidos, mantidos no estado desperto.
Jon Kabat-Zinn, em "Wherever You Go, There You Are".
Tricycle's Daily Dharma, 26 de abril, 2007.

Ilusão da raiva

Há um velho koan sobre um monge que foi até seu mestre e disse:
– Sou uma pessoa com muito raiva. Quero que você me ajude.
O mestre falou:
– Me mostre sua raiva.
O monge respondeu:
– Bem, no momento não estou nervoso. Não posso mostrá-la.
E o mestre:
– Então, obviamente, isso não é você, já que às vezes a raiva nem está aí.
Quem somos tem muitas faces, mas essas faces não são aquilo que somos.
Charlotte Joko Beck, em "Everyday Zen".
Tricycle's Daily Dharma: 8 de julho, 2007.

domingo, 16 de março de 2008

Mente inabalável

Estátua de Nagarjuna no Samye Ling, EscóciaEstátua de Nagarjuna no Samye Ling, Escócia
135
Aquilo que não é enganoso é a verdade
e não as maquinações da mente;
o que aos outros somente ajuda é a verdade;
o oposto é a falsidade -- uma vez que não presta ajuda.

136
Do mesmo modo que a caridade esplêndida
atenua as faltas dos reis,
a avareza destrói
todas as suas riquezas.

137
Na paz existe profundidade
da qual surge o maior respeito;
do respeito advêm poder e autoridade;
logo, observai a paz.

138
Da sabedoria resulta uma mente inabalável,
que não busca apoio em outras, firme
e não iludida; portanto,
ó Rei, empenhai-vos na sabedoria.
Nagarjuna, em "A Grinalda Preciosa".

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Jungle Trip AYAHUASCA

http://video.google.com/videoplay?docid=3887330534813813733&hl=en

Para quem entende inglês, esse é um dos melhores documentários sobre práticas xamânicas amazônicas. Incluindo ayahuasca, kambo e yopo.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Nagarjuna e o Mahayana


Thangka do século XIX retratando Nagarjuna (linhagem Kagyu, disponível no Himalayan Arts Resources). Clique para ampliá-la.
Abaixo, as 20 estrofes Mahayana de Nagarjuna (via Sangha Margha blog):

[1] Prostro-me ao Buddha todo-poderoso,
Cuja mente é livre do apego,
Que, em sua compaixão e sabedoria,
Ensinou o inexprimível.

[2] Na verdade, não há nascimento —
Então, certamente não há cessação ou liberação;
O Buddha é como o céu
E todos os seres têm essa natureza.

[3] Nem o samsara nem o nirvana existem,
Mas tudo é um continuum complexo
Como a face intrínseca do vazio,
O objeto da consciência última.

[4] A natureza de todas as coisas
Aparece como um reflexo,
Puro e naturalmente brilhante,
Com a natureza não-dual, tal como é.

[5] A mente comum imagina um eu
Onde não há absolutamente coisa alguma,
E se concebe de estados emocionais —
Felicidade, sofrimento e equanimidade.
Continua... -> Sangha Marha

America's Army

Estava revendo informações sobre o jogo america's army que foi lançado em 2002, feito pelo exército americano e distribuido gratuitamente para que pessoas do mundo inteiro tenham a possibilidade de realizar a simulação, de forma extremamente precisa e avançada, a criação de um soldado americano virtual...
O mais louco mesmo fica para os wallpapers distribuidos no site oficial,
Na figura do helicóptero por exemplo, já me conquistaram, pois sou sou entusiasta em simuladores de helicóptero, e pelos outros wallpapers, aonde apareciam bandeiras americanas pra todo lado, eu quase fui é conquistado também! a virar soldado e tal!! hahauhauahuaa é uma lavagem cerebral do capeta!

Nesse do soldado com a arma, fica claro que eles defendem a liberdade com armas, são tão loucos quanto os homens bomba, mas não percebem isto! (e eu fazendo download do game, me enquadro aonde? hahauhauahauahuah!!)

Alex Grey

O americano Alex Grey pinta "paisagens interiores" como ninguém. Não é a toa que uma de suas obras está na capa do livro "DMT - The Spirit Molecule", sobre uma das mais poderosas substâncias enteógenas conhecidas. Além do conteúdo das próprias imagens, os nomes de algumas obras ("Tantra", "Bardo Being", "Nature of Mind"...) também revelam a forte influência do budismo vajrayana:











Leia mais sobre DMT nesse texto.

Atualização: o próprio pintor fala sobre as obras. Em inglês.
http://www.youtube.com/watch?v=08R8tgvXa7o

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Universo em movimento

Gráfico representando o movimento do sistema solar.

Ilusão, interdependência, impermanência... Não sei bem onde essa notícia científica (da National Geographic) se encaixa, mas vamos lá...

O sistema solar voa pelo espaço a uma velocidade de 100.000 km/h. Algo que pensamos ser estático e fixo, na verdade está em disparada, na velocidade e formato de uma bala!

O universo é um líquido de cordas em rede

Imagem (clique para ampliar): fractal de autoria de IDeviant.

Xiao-Gang Wen, do Massachusetts Institute of Technology, e Michael Levin, da Harvard University, têm uma nova teoria sobre a estrutura do universo. Alguns trechos do artigo da New Scientist:

E se elétrons não forem realmente elementares, mas forem formados nas pontas de longas "cordas" formadas por outras partículas fundamentais?
...
A dupla fez simulações para ver se suas redes de cordas fariam surgir partículas convencionais e semi-partículas carregadas fracionalmente. Foi o que aconteceu. Eles também encontraram algo até mais surpreendente. Assim que a rede de cordas vibrava, ela produzia uma onda que se comportava de acordo com um conjunto de leis bem familiar: as equações de Maxwell, que descrevem o comportamento da luz.
...
Isso não foi tudo. Eles encontraram que seu modelo naturalmente fez surgir outras partículas elementares, como quarks, que fazem prótons e nêutrons...
...
A partir disso, os pesquisadores deram outro salto. Poderia todo o universo ser modelado de maneira similar? "De repente chegamos a conclusão: talvez o vácuo de todo nosso universo seja um líquido de cordas em rede", diz Wen. "Isso forneceria uma explicação unificada de como surge tanto a luz quanto a matéria". Então, na teoria deles, partículas elementares não são os blocos fundamentais da matéria. No lugar disso, elas surgem da estrutura mais profunda do vácuo não-vazio do espaço-tempo.

Mandalas Fotográficas

Kazuhiko Kobayashi faz curiosas mandalas com fotos de paisagem. Alguns exemplos (clique para ampliar):





Via Pink Tentacle.

Maitreya, o Buda do Amor

Maitreya, o próximo Buda. A imagem (clique para ampliar) é do Exotic India Art.

Achei essa bela passagem no blog Para ser zen:

Maitri pode ser traduzido como “amor”, ou “bondade amorosa”. Alguns mestres budistas preferem “bondade amorosa” por considerarem a palavra “amor” muito perigosa. Mas eu prefiro o termo “amor”. Às vezes, as palavras adoecem, e nós temos que curá-las. A palavra “amor” tem sido usada como um termo correspondente a apetite, ou desejo, como em “eu amo hambúrgueres”. É necessário empregar o idioma com mais cuidado. “Amor” é uma palavra bonita, devemos recuperar seu significado. O termo maitri tem raízes na palavra mitra, que quer dizer amigo. No budismo, o principal significado de amor é amizade.

Todos nós possuímos as sementes do amor. Podemos desenvolver essa maravilhosa fonte de energia nutrindo o amor incondicional que nada espera de volta. Quando compreendemos uma pessoa no fundo do coração, inclusive alguém que nos feriu, não conseguimos deixar de amá-la. O Buda Shakyamuni mencionou que o Buda do próximo éon se chamará “Maitreya, o Buda do Amor”.
Thich Nhat Hanh, em "Ensinamentos sobre o Amor".

Natureza de Buda

Thangka do Exotic India Art (clique para ampliar), com Buda Shakyamuni e momentos de sua vida em volta.

Uma das analogias mais comuns usadas para descrever a natureza de Buda é o próprio espaço. Essa analogia tem três aspectos. Primeiro, assim como o espaço é onipresente -- e, no entanto, imaculado por qualquer coisa que contenha -- do mesmo modo a natureza de Buda penetra cada ser senciente, sem ser de modo algum manchada.

Segundo, assim como galáxias e universos surgem e se vão no espaço, assim as características de nossas personalidades surgem e se vão dentro da natureza de Buda. Nossas sensações surgem e vão; a natureza de Buda continua.

Terceiro, assim como o espaço nunca é consumido pelo fogo, assim a natureza de Buda jamais é consumida pelo "fogo" do envelhecimento, doença e morte.
B. Alan Wallace, em "Tibetan Buddhism from the Ground Up".
Tricycle's Daily Dharma, 11 de setembro, 2007.

domingo, 13 de janeiro de 2008

Nagarjuna e o Mahayana


Thangka do século XIX retratando Nagarjuna (linhagem Kagyu, disponível no Himalayan Arts Resources). Clique para ampliá-la.
Abaixo, as 20 estrofes Mahayana de Nagarjuna (via Sangha Margha blog):

[1] Prostro-me ao Buddha todo-poderoso,
Cuja mente é livre do apego,
Que, em sua compaixão e sabedoria,
Ensinou o inexprimível.

[2] Na verdade, não há nascimento —
Então, certamente não há cessação ou liberação;
O Buddha é como o céu
E todos os seres têm essa natureza.

[3] Nem o samsara nem o nirvana existem,
Mas tudo é um continuum complexo
Como a face intrínseca do vazio,
O objeto da consciência última.

[4] A natureza de todas as coisas
Aparece como um reflexo,
Puro e naturalmente brilhante,
Com a natureza não-dual, tal como é.

[5] A mente comum imagina um eu
Onde não há absolutamente coisa alguma,
E se concebe de estados emocionais —
Felicidade, sofrimento e equanimidade.
Continua... -> Sangha Marha

sábado, 12 de janeiro de 2008

Visões de Pablo Amaringo

Pablo Amaringo é um pintor e vegetalista (xamã) peruano, famoso pelas pinturas de suas visões com ayahuasca (huasqueiros costumam reconhecer esses padrões de figuras de longe...).

Atualmente, além de pintor, ele coordena retiros com ayahuasca e a escola de pintura Usko-Ayar.

As imagens abaixo são da galeria de Amaringo hospedada pelo site Head Over Heels.









Atualização: Leia um trecho do livro "Ayahuasca Visions", de Pablo Amaringo, no site do Centro Estrela de Salomão, aqui.

Timothy Leary e DMT



(o texto abaixo é a tradução de um artigo de Timothy Leary sobre algumas de suas experiências com DMT. O artigo original pode ser lido aqui.)

Comunicação programada durante experiências com DMT

Psychedelic Review

No. 8, 1966

por Timothy Leary
Durante os primeiros dois anos do Harvard Psychedelic Research Project (Projeto de Pesquisa Psicodélica de Harvard) circularam rumores sobre um "poderoso" agente psicodélico chamado dimetiltriptamina: ou DMT. O efeito dessa substância deveria durar menos que uma hora e produzir efeitos estilhaçantes e aterrorizadores. Dizia-se que era a bomba atômica da família psicodélica.

O farmacologista húngaro Stephen Szara foi quem primeiro reportou, em 1957, que as substâncias N,N-Dimetiltriptamina (DMT) e N,N-Dietiltriptamina (DET) produziam efeitos no homem similares ao LSD e mescalina. A única diferença era na duração: enquanto LSD e mescalina tipicamente duravam de 8 a 10 horas, o DMT durava de 40 minutos a uma hora, e o DET de duas a três horas. Também foi relatado que os homólogos dipropiltriptamina e dibutiltriptamina eram ativos, mas menos potentes. A substância-mãe, triptamina, por si só não tem efeito. Quimicamente, o DMT está intimamente relacionado com a psilocibina e a psilocina (4-hidroxi-N-dimetiltriptamina), assim como à bufotenina (5-hidroxi-N-dimetiltriptamina). O mecanismo de ação do DMT e componentes relacionados ainda é um mistério científico. Como LSD e psilocibina, o DMT tem a propriedade de aumentar o modificação metabólica da serotonina no corpo. Uma enzima capaz de converter triptamina natural do corpo em DMT foi recentemente descoberta em alguns tecidos de mamíferos. Isso sugere que pode haver mecanismos para o corpo converter substâncias internas naturais em componentes psicodélicos. (1,2,3,4,5)

O DMT foi identificado como um dos componentes da semente Mimosa hostilis, de onde os índios Pancaru do Pernambuco, Brasil, preparam uma bebida alucinógena que eles chamam de Vinho da Jurema. Também é, junto com a bufotenina, um dos componentes das sementes da Piptadenia peregrina, de onde os índios do Orinoco Basin e Trinidad preparam um pó alucinógeno que eles chamam de yopo (6).

William Burroughs experimentou a substância em Londres e relatou-a nos termos mais negativos. Burroughs estava trabalhando na época em uma teoria da geografia neurológica -- algumas áreas corticais seriam celestiais; outras, diabólicas. Como exploradores chegando a um novo continente, seria importante mapear as áreas amistosas e as hostis. Na cartografia farmacológica de Burroughs, o DMT lançava o viajante em um território estranho e decididamente não amigável.

Burroughs contou uma história interessante sobre um psiquiatra em Londres que experimentou DMT com um amigo. Após alguns minutos, o assustado amigo começou a pedir ajuda. O psiquiatra, ele mesmo já rodopiando em um universo de pigmentos móveis e vibratórios, alcançou sua agulha hipodérmica (que já tinha se fragmentado em um composto trêmulo de mosaicos ondulares) e se inclinou para aplicar o antídoto. Para seu desgosto, seu amigo -- se contorcendo de pânico -- foi subitamente transformado em um réptil serpenteante, encrustado de jóias e faiscante. O dilema do doutor: onde aplicar uma injeção intravenal em uma cobra marciana-oriental se debatendo?

Alan Watts tinha uma história de DMT a contar. Ele experimentou a droga como parte de uma pesquisa na Califórnia e tinha planejado provar que poderia manter controle racional e fluência verbal durante a experiência. O equivalente mais próximo disso seria tentar uma descrição momento-a-momento das reações de alguém que foi atirado de um canhão atômico de neon bizantino. O Dr. Watts deu uma descrição assombrada sobre fusão perceptiva.

No outono de 1962, durante uma série de três dias de palestras na Southern California Society of Clinical Psychologists, me encontrei em uma discussão com um psiquiatra que estava coletando dados sobre o DMT. Ele havia ministrado a droga para mais de 100 cobaias e apenas 4 tiveram experiências prazeirosas. Isso era um desafio para a hipótese de "ambiente-condição" (set-setting). Conforme nossas evidências -- e alinhado com nossa teoria -- encontramos poucas diferenças entre drogas psicodélicas. Estávamos ceticamente convencidos que as elaboradas variações clínicas alegadamente encontradas em reações a diferentes drogas eram puro folclore psicodélico. Estávamos firmes em nossa hipótese de que drogas não têm efeitos específicos na consciência, com exceção daqueles da expectativa, preparação, clima emocional e relações com o "fornecedor" da droga -- fatores responsáveis por todos os diferentes tipos de reação.

Estávamos ansiosos para ver se a lendária "droga do terror", o DMT, se enquadraria na teoria do "ambiente-condição".

Uma sessão foi arranjada. Fui para a casa do pesquisador, acompanhado de um psicólogo, um monge Vedanta e duas amigas. Após uma longa e amigável discussão com o médico, o psicólogo deitou em um sofá. A cabeça de sua amiga repousava em seu peito. Me sentei na extremidade do sofá, sorrindo reconfortantemente. Uma dose intramuscular de 60 mg de DMT foi aplicada.

Em dois minutos, o rosto do psicólogo já estava brilhando de alegria serena. Pelos próximos 25 minutos ele respirou profundamente e murmurou de prazer, mantendo um relato divertido e de êxtase sobre suas visões.

"Os rostos na sala se tornaram mosaicos de bilhões de faces em tons ricos e vibrantes. As características faciais de cada um dos observadores em volta da cama eram a chave para suas heranças genéticas. Dr. X (o psiquiatra) era um índio americano bronzeado com pintura cerimonial completa no corpo; o monge hindu era um profundo e espiritual habitante do meio-oeste com olhos que, de uma só vez, refletiam perspicácia animal e a tristeza de séculos; Leary era um irlandês malandro, um capitão com pele encouraçada e rugas nos cantos de olhos, que já haviam olhado longa e duramente o inescrutável, um comandante aventureiro ansioso por mapear novas águas, explorar o próximo continente, exsudando a confiança que vem com a bem-humorada consciência cósmica de sua missão -- genética e imediata. Próximo a mim, ou melhor, sobre mim, ou melhor, dentro de mim, ou melhor, além de mim: Billy. A pele dela estava vibrando em uma harmonia com a minha. Cada estalar de músculo, o exato curso do sangue em suas veias... era um assunto de intimidade absoluta... Mensagens do corpo de uma suavidade e sutileza tanto estranhamente eróticas quanto deliciosamente familiares. Profundamente dentro, um ponto de calor em minha virilha lentamente -- mas poderosa e inevitavelmente -- irradiou por todo meu corpo até que cada célula se tornou um sol emanando seu próprio fogo originador da vida. Meu corpo era um campo de energia, um conjunto de vibrações com cada célula pulsando em fase com todas as outras. E Billy, cujas células agora dançavam a mesma dança, não era mais um entidade discreta, mas uma parte ressonante do conjunto único de vibrações. A energia era amor".

Exatamente 25 minutos após a administração, o psicólogo sorriu, suspirou, sentou jogando as pernas no lado do sofá e disse: "Durou por um milhão de anos e uma fração de segundo. Mas acabou e agora é a sua vez".

Com esse precedente assegurador, tomei posição no sofá. Margaret sentou no chão segurando minha mão. O psicólogo sentou ao pé do sofá, irradiando benevolência. A droga foi administrada.

Minha primeira experiência com DMT
"Minha experiência com DMT ocorreu na mais favorável condição. Tínhamos acabado de presenciar a experiência extática de meu colega e a radiância de sua reação forneceu uma estrutura otimista e segura. Minhas expectativas eram extremamente positivas."

"Cinco minutos após a injeção, deitado confortavelmente na cama, senti os sintomas típicos da aproximação psicodélica -- uma soltura somática prazeirosa, um afinamento sensitivo a sensações físicas."

"Olhos fechados... visões típicas de LSD, a beleza rara do maquinário retinal e físico, transcendência da atividade mental, desapego sereno. Consciência reconfortante da mão de Margaret e a presença de amigos."

"De repente, abri meus olhos e sentei... a sala era celestial, brilhando com iluminação radiante... luz, luz, luz... as pessoas presentes estavam transfiguradas... criaturas que pareciam deuses... estávamos todos unidos em um organismo. Abaixo da superfície radiante pude ver o delicado e fantástico maquinário de cada pessoa, a rede de músculos, veias e ossos -- excelentemente lindo e unido, tudo parte do mesmo processo."

"Nosso grupo estava comungando uma experiência paradisíaca -- cada um no seu turno estava recebendo a chave da eternidade -- agora era a minha vez, eu estava experimentando esse êxtase pelo grupo. Mais tarde, outros iriam embarcar. Éramos membros de uma coletividade transcendente."

"O Dr. X me auxiliou delicadamente... me deu um espelho onde vi meu rosto como um retrato em vidro manchado".

"O rosto de Margaret era como o de todas as mulheres -- esperta, bela, eterna. Seus olhos eram completamente femininos. Ela murmurou exatamente a mensagem certa: 'Pode ser sempre desse jeito'."

"A incrível unidade complexa do processo evolutivo -- incrível, infinita em sua variedade -- por quê? Para onde está indo? etc... etc. As velhas perguntas e então a gargalhada de aceitação divertida, extática. Demais! Muito! Esqueça! Não pode ser deduzida. Ame-a em gratidão e aceite! Iria me inclinar para buscar significado na face tingida e chinesa de Margaret, mas caí de volta no travesseiro em reverência. Gargalhada estupefata."

"Gradualmente, a iluminação brilhante foi recuando para o mundo tridimensional e me sentei. Renascido. Renovado. Radiante com afeição e reverência."

"Essa experiência me levou ao ponto mais alto da iluminação com um enteógeno -- um satori -pedra-preciosa. Foi menos interno e mais visual e social que minhas experiências usuais com LSD. Não houve um segundo de medo ou emoção negativa. Só alguns momentos de paranóia benigna (agente do grupo divino etc)."

"Fui deixado com a convição de que o DMT oferece muito potencial como um gatilho transcendental. A brevidade da reação tem muitas vantagens -- fornece segurança com a certeza de que acabará em meia hora e pode possibilitar a exploração precisa de áreas transcendentais específicas."

Ambiente-condição na experiência programada
Imediatamente depois de minha primeira viagem com DMT, a droga foi administrada ao monge hindu. Esse dedicado homem esteve 14 anos em meditação e renúncia. Era um sannyasin, ordenado para vestir o manto sagrado laranja. Ele havia participado de diversas sessões com drogas psicodélicas, com resultados extremamente positivos, e estava convencido de que a estrada bioquímica para o samadhi era não apenas válida mas talvez o método mais natural para pessoas vivendo em uma civilização tecnológica.

Sua reação ao DMT foi, contudo, confusa e desconfortável. Catapultado na súbita perda do ego, ele lutou para racionalizar sua experiência em termos de técnicas hindús clássicas. Se manteve olhando indefeso e perdido para o grupo. Prontamente, em 25 minutos ele se sentou, riu e disse: "Que viagem foi essa?! Realmente terminei preso em alucinações cármicas!".

A lição era clara. O DMT, como outras chaves psicodélicas, podia abrir uma infinidade de possibilidades. Mas ambiente, condição, sugestionabilidade e estrutura da personalidade estavam sempre lá como filtros, através dos quais a experiência extática podia ser distorcida.

Na volta a Cambridge, arranjos foram feitos com uma empresa farmacêutica e com nosso consultor médico para conduzirmos uma pesquisa sistemática com a nova substância. Durante os próximos meses fizemos mais de 100 sessões -- no início, exercícios de treino para pesquisadores experientes e, depois, testes com pessoas completamente inexperientes em assuntos psicodélicos.

A porcentagem de sessões de sucesso, extáticas, foi alta -- acima de 90%. A hipótese ambiente-condição claramente contou a favor do DMT, em relação a experiências positivas. Mas havia certas características definidas da experiência que eram notavelmente diferentes de psicodélicos clássicos -- LSD, psilocibina e mescalina. Primeiro de tudo, a duração. A transformação de 8 horas do LSD foi reduzida para 30 minutos. A intensidade também era maior. Isso significa que o estilhaçamento da percepção "aprendida" das formas, o colapso da estrutura adquirida, era muito mais pronunciado. "Olhos fechados" produziam uma suave, silenciosa, na velocidade da luz, dança redemoinhante de formas celulares incríveis -- acre sobre acre, milha sobre milha de formas orgânicas em giro suave. Uma volta de foguete convolutiva, acrobática e suave através da fábrica de tecidos. A variedade e irrealidade dos precisos, fantásticos e delicados mecanismos da maquinaria orgânica. Muitos que experimentam LSD reportam odisséias sem fim através da rede de túneis circulatórios. Não com DMT. No lugar disso, uma volta na nuvem sub-celular em um mundo de beleza móvel e ordenada que desafia a busca por metáforas.

"Olhos abertos" produziam um colapso similar da estrutura adquirida -- mas desta vez dos objetos externos. Rostos e coisas não mais tinham forma, mas eram vistos como um fluxo tremeluzente de vibrações (que é que elas são). A percepção de estruturas sólidas era vista como uma função de redes visuais, mosaicos, teias de energia luminosa.

A transcendência do ego-espaço-tempo foi o relato mais frequente. As pessoas frequentemente reclamavam que se tornavam tão perdidas no amoroso fluxo de existências infinitas que a experiência terminava muito rápido, e era tão suave que faltavam pontos de referência para tornar as memórias mais detalhadas. As costumeiras referências de percepção e memória estavam faltando! Não podia haver memória da sequência de visões porque não havia tempo -- e nenhuma memória de estrutura porque o espaço foi convertido em um processo fluído.

Para lidar com esse problema, instituímos sessões programadas. Seria solicitado que a pessoa respondesse a cada dois minutos, ou ela seria apresentada a um estímulo para resposta a cada dois minutos. Os pontos de referência seriam, assim, fornecidos pelo pesquisador -- a sequência temporal poderia ser quebrada em estágios e o fluxo de visões seria dividido em tópicos.

Como exemplo de uma sessão programada usando DMT, vamos considerar o relatório que se segue. O plano para essa sessão envolveu a "máquina de escrever experimental". Esse dispositivo, descrito em uma artigo anterior (7), é projetado para permitir comunicação não-verbal durante sessões psicodélicas. Há dois teclados com dez botões para cada mão. As 20 teclas são conectadadas com um polígrafo de 20 canetas que registra uma marca em um rolo de papel em movimento cada vez que uma tecla é pressionada.

A pessoa precisa aprender os códigos de classificação da experiência antes da sessão e é treinada para responder automaticamente, indicando a área de sua consciência.

Nesse estudo foi combinado que eu seria questionado a cada dois minutos, para indicar o conteúdo de minha consciência.

A sessão aconteceu em uma sala especial, de 8 por 20, completamente coberta: teto, paredes e piso, por telas indianas alegres e coloridas. A sessão seguiu o modelo de "revezamento de guia": outro pesquisador, uma psicofarmacologista, iria agir como interrogador para minha sessão. O farmacologista então repetiria a sessão, com Leary como interrogador.

Às 20h10, recebi 60 mg de DMT
Deitado no travesseiro, arrumando almofadas... relaxado e aguardando... de certa forma entretido por nossa tentativa de impor referências ao conteúdo temporal no fluxo do processo... ruído, suor, zunindo... olhos fechados... de repente, como se alguém tivesse apertado um botão, a escuridão estática da retina é iluminada... fábrica gigante de relógios preciosos de brinquedo, a fábrica de Papai Noel... não impessoal ou arquitetada, mas alegre, cômica, leve. A dança evolucionária, zunindo de energia, bilhões de formas derivadas girando, estalando através de seus turnos determinados no suave balé...

2º MINUTO. TIM: ONDE ESTÁ VOCÊ AGORA? A voz de Ralph, declarativa, gentil... o quê? onde? você? olhos abertos... ali espalhados perto de mim estão dois insetos magníficos... pele polida, com metal brilhante, com jóias incrustadas... ricamente adornados, eles olham para mim docemente... queridos grilos venusianos radiantes... um tem um bloco em seu colo e está segurando uma caixa encrustada de jóias com brilhantes seções ondulantes trapezóides... olhar interrogativo... incrível... e perto dele o Sr. Grilo Diamante entra suavemente em vibrações... o Dr. Grilo Rubi-Esmeralda sorri... TIM ONDE ESTÁ VOCÊ AGORA?... move a caixa na minha direção... ah sim... tente dizer a eles... onde...

Aos dois minutos, o paciente está sorrindo de olhos fechados. Ao ser questionado ele abriu os olhos, olhou para os observadores curiosamente, sorriu. Quando a pergunta sobre orientação foi repetida ele deu de ombros, moveu seu dedo procurando a máquina de escrever e (com um olhar de tolerância entretida) golpeou a tecla de "atividade cognitiva". Ele então caiu de volta com um suspiro e fechou seus olhos.

Use a mente... explique... olhe para baixo nas caixas ondulantes... lutando para focar... use a mente... sim COGNITIVA... ali...

Olhos fechados... de volta ao workshop dançante... alegria... beleza incrível... a maravilha, maravilha, maravilha... obrigado... obrigado pela chance de ver a dança... tudo se encaixa junto... tudo se adequa ao padrão úmido, pulsante... um gigantesco penhasco acinzentado-branco, se movendo, cravado de pequenas cavernas e, em cada caverna, uma tira de antena de radar, insetos-elfos alegremente trabalhando, cada caverna a mesma, a parede cinza-branca infinitamente adornada por... infinitude de formas de vida... redes de energia alegres e eróticas...

4º MINUTO. TEMPO, ONDE ESTÁ VOCÊ AGORA? Rodando pela tapeçaria do espaço, vem um voz lá de baixo... voz terrestre bondosa e querida... base na Terra chamando... onde está você?... que piada... como responder... estou no tubo de ensaio borbulhante do alquimista cósmico... não, agora o pó de estrela cadente suave me explode gentilmente... rostos estilhaçados em mosaico de vidro manchado... Dr. Lagosta da Tiffany segura o cesto de seções trapezóides... olha para chave brilhante... onde está a chave venusiana do êxtase?... onde está a chave para a explosão estelar do ano 3000?... IMAGENS DE PROCESSOS EXTERNOS... sim... pegou a chave...

Aos quatro minutos, o paciente ainda estava sorrindo de olhos fechados. Ao ser contatado para reportar, abriu seus olhos e riu. Olhou para os observadores com olhos brilhantes, examinou o teclado da máquina de escrever experimental e apertou a tecla de IMAGEM DE PROCESSO EXTERNO. Então caiu de volta e fechou seus olhos.

Que bom... eles estão aqui embaixo... esperando... sem palavras aqui para descrever... eles têm palavras lá embaixo... ondas de formas coloridas girando... repicando alegremente... de onde eles vêm... Quem é o arquiteto... impiedoso... cada fábrica dançante e ondulante devorando a outra... me devorando... padrão cruel... o que fazer... terror... ah deixa vir... me devorem... me engolfem no oceano de bocas de flocos de neve... tudo bem... como tudo se encaixa... piloto-automático... está tudo pensado... tudo no piloto-automático... de repente meu corpo estala e começa a desintegrar... fluindo para o rio de energia... tchau... fui... o que eu era está agora absorvido em um flash de elétrons... dirigido através do espaço sideral em pulsos orgásmicos de movimentos de partículas... libertação... emitindo luz, luz, luz...

6º MINUTO. TIM, ONDE ESTÁ VOCÊ AGORA? Voz terrestre chamando... você aí em órbita nuclear... incorporação... agarre a partícula com feixe de energia... devagar... pare na estrutura do corpo... volte... com o abrir dos olhos a dança nuclear subitamente congela em forma fixa... vendo dois blocos de elétrons tremeluzindo... a galáxia Ralph chamando... a galáxia Sr. Ralph sorrindo... a dança de energia capturada momentaneamente na forma de robô amigável... olá... perto dele uma vela brilha... o centro da teia de um milhão de fechos de luz... a sala é capturada em uma rede de energia-luz... tremeluzindo... toda visão é luz... nada a enxergar a não ser ondas de luz... fótons refletidos do sorriso enigmático de Ralph... espera a resposta... fótons quicando das teclas da vibrante máquina de escrever... como é fácil transmitir uma mensagem... o dedo aperta IMAGENS DE PROCESSOS EXTERNOS...

Aos seis minutos, o paciente terminou de fazer caretas que pareciam ser de algum medo ou problema passageiro. Ao ser contatado para reportar, espiou pela sala e sem hesitar pressionou a tecla PROCESSOS EXTERNOS. Então fechou os olhos.

Olhos fechados... mas pós-imagens da chama da vela persistem... globos oculares presos em órbita em torno de um centro de luz interno... radiância celestial no centro de luz... luz do sol... toda luz é sol... luz é vida... vida, lux, luce, vida... tudo é uma dança de luz-vida... toda vida é o fio... carregando luz... toda luz é o frágil filamento de luz... som solar silencioso... transmitido das chamas do sol... luz-vida...

8º MINUTO. TIM, ONDE ESTÁ VOCÊ AGORA? No coração da explosão de hidrogênio do sol... nosso globo é um globo de luz... abrir os olhos joga cortina sobre o clarão do sol... olhos abertos trazem cegueira... trancam a radiância interna... vendo Deus em contraste-escuro segurando uma caixa de sombra... onde é a vida?... pressione a TECLA DA LUZ BRANCA. Aos oito minutos, o paciente, que estava deitado imóvel sobre as almofadas, abriu seus olhos. Sua expresão era de confusão, surpresa. Sem expressão, pressionou a tecla LUZ BRANCA.

Mantendo olhos fechados... parado... capturado... hipnotizado... toda a sala, paredes floridas, almofadas, vela, formas humanas todas vibrando... todas as ondas não tendo nenhuma forma... imobilidade terrível... apenas fluxo de energia silencioso... se você se mover, vai destroçar o padrão... todas as memórias de formas, significados, identidades... sem significado... foi... tudo é uma emanação impiedosa de ondas físicas... fenômenos são pulsos televisivos estalando através de um programa interestelar... nosso sol é um ponto em uma tela de TV astrofísica... nossa galáxia é um minúsculo agregado de pontos em um canto de uma tela de TV... cada vez que uma supernova explode é apenas aquele ponto na tela mudando... o ciclo de dez milhões de anos do universo é um flash de milissegundo de luz na tela cósmica que flui infinita e rapidamente com imagens... sentado imóvel... não desejando movimento ou impor movimento no padrão... ausência de movimento em movimento na velocidade da luz...

10º MINUTO. TIM, ONDE ESTÁ VOCÊ AGORA? Torre de controle transmitindo mensagem de averiguação... inundação de amor fantástico por podermos nos contatar... permanecemos em contato... onde estava aquele agregado mesmo... alucinando... metáforas de ficção científica... onde está a chave... ali... ALUCINAÇÕES EXTERNAS...

Dos oito aos dez minutos o paciente sentou-se imóvel, olhos abertos em um estado de transe. Não houve tentativa de comunicação. Contatado, ele se moveu devagar mas determinado e pressionou a TECLA DE ALUCINAÇÕES EXTERNAS.

Trechos do Questionário de Pesquisa preenchido depois da sessão: perda do espaço-tempo... fusão com fluxo de energia... vendo todas as formas de vida como ondas físicas... perda do corpo... existência como energia... consciência de que nossos corpos são blocos momentâneos de energia e de que somos capazes de nos afinar com padrões não-orgânicos... certeza de que processos vitais estão no "piloto-automático"... nada a temer ou se preocupar... a complexidade e infinitude do processo vital... entendimento repentino do significado de termos da filosofia indiana como "maya", "maha-maya", "lila"... insight dentro da natureza e diversos estados transcendentais... a vazia-luz-branca-do-não-conteúdo, êxtase da estruturação temporária da forma-meta-vida-inorgância da estrutura do código genético musical e o...

12º MINUTO. TIM, ONDE VOCÊ ESTÁ AGORA? Olhos abertos... risada... pego pela torre de controle vigilante ao orbitar em torno de uma área da mente terrena e descobridora... onde é a tecla para pensamentos terrenos?... alucinações... não, o jogo do pensamento... pressione TECLA COGNITIVA...

Do 10º ao 12º minuto, o paciente sentou olhando sem expressão e sem movimento para a parede da sala. Ao ser contatado, sorriu e pressionou a tecla COGNITIVA.

Acima da cabeça está a lâmpada coberta com enfeites de escurecimento para luz azul... circulando a sombra brilhante estão faixas ondulares... silenciosas... acenando... convidando... junte-se a dança... deixe seu robô... um universo inteiro de coreografias aéreas prazeirosas aguarda... sim, juntar-se a eles... de repente, como fumaça subindo de um cigarro, a consciência subiu... indo em caminhos de gaivota até a fonte da luz e, silenciosamente, para outra dimensão...

Do questionário de pesquisa: uma descrição do nível atingido é uma yoga em prosa além da realização atual... havia bilhões de cartas de arquivo, em hélice, que num passar de olhos me confortava com uma biblioteca sem fim de eventos, formas, percepções visuais -- não abstratas, mas empíricas... um bilhão de anos de experiências codificadas, classificadas, preservadas em claridade brilhante, pulsante e fria, que fazia a realidade ordinária parecer um show barato, fora de foco, esfarrapado, desengonçado, indeciso, gasto e de mau gosto... qualquer pensamento, uma vez pensado, instantaneamente se tornava vivo e piscava através do diafragma da consciência... mas ao mesmo tempo não havia ninguém para observar... eu... ele... aquele que está consciente... todos vibrando em uma visão eletrônica em technicolor, VEJA!, para aquele que tem estado cego por séculos...

14º MINUTO. TIM, ONDE VOCÊ ESTÁ AGORA? Oh, onde estamos agora?... oh, escute, aqui está onde estamos... uma vez havia um ponto elétrico brilhante... piscar repentino em lama pré-crambriana... o ponto se balança e se agita em uma contorção tremida com traços de alegria, cantoria, soluçar e calafrios... para cima... uma serpente começa a se torcer em direção à suave e quente fenda... minúsculo, do tamanho de um vírus... crescendo... o comprimento enorme de um bacilo microscópico... fluindo exultante, sempre cantando a melodia da flauta hindu... sempre explodindo, se esfoliando... agora do tamanho de uma raiz de musgo, zunindo através de espamos úmidos... crescendo... crescendo... sempre desfolhando sua própria visão... sempre cego, exceto pelo ponto frontal da luz-olho... agora correias de pele de cobra, sacudindo mosaicos de jóias ritmicamente, adiante como cobra... agora do tamanho de um tronco de árvore, sensual com o graxa espérmica correndo dentro... agora inchando em uma enchente de esticamento de tecido... rosa, corrente lamaçal de fogo melodioso... agora circulando o globo, apertando oceanos salgados verdes e montanhas marrom-argila entalhadas em um abraço constritor... serpente fluindo cegamente, agora uma torcida cobra de vértebras elétricas de um bilhão de milhas sem fim cantando a melodia hindu da flauta... cabeça de pênis palpitando... mergulhada em todos os odores, toda a tapeçaria colorida de tecido... contorcimento cego, serpente intumescida circular cega, cega, cega, exceto pelo único olho de jóia que, por um fragmento de piscar, a cada célula no desfile progressivo é permitido aquele momento cara-a-cara de insight de chama solar no futuro-passado.

TIM, TIM, ONDE VOCÊ ESTÁ AGORA? A torre de La Guardia repete solicitações de contato com um navio perdido além do abrangência do radar... onde?... sou o olho da grande cobra... uma dobra na pele da serpente, dando mergulhos trapezóides... registrando conteúdos da consciência... onde está você?... aqui... ALUCINAÇÕES INTERNAS.

Do 12º ao 14º minutos, o paciente sentou silenciosamente com olhos fechados. Ao ser contatado, falhou em responder e, após 30 segundos, foi contatado novamente. Então pressionou a tecla ALUCINAÇÃO EXTERNA.

A sessão continuou com interrupções de dois minutos até o 20º minuto no mesmo padrão: vôos atemporais pelos alucinantes campos de vibração de energia pura com repentinas contrações em direção à realidade para responder às questões do observador.

O relatório da sessão preenchido no dia seguinte continha os seguintes comentários sobre esse método de sessão programada:

Essa sessão sugeriu algumas soluções para o problema da comunicação durante experiências psicodélicas. A pessoa "lá em cima" está passando por experiências que rodopiam tão rápido e contêm conteúdo estrutural tão diferente de nossas formas macroscópicas familiares que ela, possivelmente, não consegue descrever onde está ou o que está experimentando. Considere a analogia do piloto de avião que perdeu a orientação e que fala com a torre de controle. O piloto está experimentando muitos eventos -- pode descrever as formações de nuvens, flashes de luz, a cristalização de gelo na asa visível da janela --- mas nada disso faz qualquer sentido para os técnicos da torre que tentam traçar o curso na linguagem tridimensional de navegação. A pessoa "lá em cima" não pode fornecer coordenadas. A equipe de controle no chão deve transmitir: "Cessna 64 Bravo, nosso radar mostra que você está a 15 milhas a sudoeste do Aeroporto Internacional. O brilho vermelho que você vê é o reflexo de Manhattan. Para entrar na rota para Boston você precisa mudar o curso em 57 graus e manter uma altitutde de 5500".

Mas a linguagem da psicologia não é sofisticada o suficiente para fornecer tais parâmetros. Nem há compassos empíricos para determinar a direção.

O que podemos fazer, nesse ponto, é configurar "planos de vôos". O paciente pode trabalhar, antes da sessão, as áreas de experiência com que quer interagir; e ele pode planejar a sequência temporal de sua viagem visionária. Ele não será capaz, durante o vôo, de dizer aos "controladores" onde está, mas eles podem contatá-lo e dizer como ele deve proceder. Assim, durante essa sessão, quando Ralph perguntou, ONDE VOCÊ ESTÁ AGORA?, não pude responder. Tive que descer, diminuir o fluxo da experiência e então contar a ele onde acabei chegando.

Quando fizeram a pergunta de contato, eu poderia estar esbarrando em outras galáxias. Para poder responder, tive que parar minha jornada livre e errante, chegar perto da terra e dizer: "Estou sobre New Haven".

Essa sessão foi um contínuo e serial venha-para-baixo. Repetidamente, tive que parar o fluxo para poder responder. Meu cortex estava recebendo centenas de impulsos por segundo, mas para responder às perguntas da torre de controle tive que reduzir a nave para uma marcha lenta: "Estou aqui".

Essa sessão sugere que um modo mais eficiente de mapear experiências psicodélicas seria:

  1. Memorizar o teclado da máquina de escrever experimental, para que a comunicação com o controle de solo seja automática.
  2. Planejar a sessão de modo que os controladores não perguntem coisas irrespondíveis -- "Onde realmente estou?" -- mas digam ao paciente onde ir. Então a tarefa de comunicação do viajante seria indicar se ele está no curso, isto é, se ele está ou não seguindo as instruções de vôo transmitidas pelos controladores.

O controle de solo deveria enviar estímulos. A sugestionabilidade está totalmente aberta. A torre La Guardia direciona o vôo.

VOCÊ APRENDEU ALGO DE VALOR COM ESSA SESSÃO? SE SIM, POR FAVOR ESPECIFIQUE: "A sessão foi de grande valor. Estou forte e claramente motivado a desenvolver métodos de controle de solo e vôos planejados".

APROXIMADAMENTE QUANTO DA SESSÃO (EM %) FOI GASTO EM CADA UM DESSES ASPECTOS?

  1. JOGOS INTERPESSOAIS (afeição pelos observadores) - 10%
  2. EXPLORAÇÃO OU DESCOBERTA DE SI, OU JOGOS DO EGO - 0%
  3. OUTROS JOGOS (SOCIAIS, INTELECTUAIS, RELIGIOSOS) - 70% (intelectuais, lutando com o problema da comunicação)
  4. TRANSCENDÊNCIA ALÉM DOS JOGOS - 20% (continuamente)

Referências

  1. Szara, S: Hallucinogenic effects and metablism of tryptamine derivatives in man. Fed. Proc. 20: 858-888, 1961.
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